domingo, 4 de abril de 2010

Encalhado













Encalhado, desejo sair disto,
Distraio a realidade pra mim,
Pois o esperado não é como o previsto
Esparrela má, suave cetim.

Preso ao desejo ilustre que não ilustra!
Somente abandonada numa pedra
Tal como a humanidade se assusta.
Já nem sabedoria cura a quebra.

Só os restos vivos restam para a morte.
Já só a ideia criativa morta
Numa junção do fraco com o forte.

E se esta calha se encontra só tonta,
Basta que a água a purifique e corte
Até que a vida trespasse essa porta…

António Botelho
In Sonetos

2 comentários:

  1. Escreves poesias muito lindas...
    José Flor - OzFlor

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  2. Pergunto-me se a realidade é real ou puro mito, este inequívoco atormenta-me. Talvez tudo se redima a uma tremenda ilusão desmedida e falsa. Talvez tudo se reduza a um tudo que transborda um nada. Talvez os nossos rostos são máscaras usadas pelos nossos pensamentos e assim nunca saberemos ao certo o que é que os outros pensam ou em última análise o que eles realmente são.
    E por não estar na cabeça deste poeta nunca saberei o que ele pretendia exactamente dizer, interpretando-o à minha maneira. A humanidade assusta-se por pouco e por pouco vive assustada e atrevo-me a dizer que uma grande e extensa maioria prefere viver em ignorância por este terrível medo de conhecer. O desconhecido é um estranho viajante que atormenta este povo. Não poderia deixar de me lembrar da alegoria da caverna. Aqueles homens tinham medo de descobrir que existia um mundo novo, diferente e renovado muito além das sombras que eles somente conheciam. Talvez a escuridão e a ignorância não lhes deixe os olhos feridos, talvez a ignorância seja apenas o seu mundo fosco que eles tanto admiram. Deixo-te aqui um talvez…
    A.C

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